DEBATE: A saúde e o poder da
fé
(Medicina e Saúde. A
Tribuna/ MT, 9 de janeiro/2008)
Quando a medicina chegou a
seu limite, a saúde piorou e a morte ficou mais próxima, [mulheres] encontraram
ajoelhadas, de olhos fechados e em meio a lágrimas, um tratamento que nenhum
hospital se arriscaria a oferecer. À força da oração seguiu-se uma reviravolta
no diagnóstico. Se para elas nunca foi dúvida creditar a cura à fé, a ciência
até bem pouco tempo rejeitava essa possibilidade. Hoje há cientistas que não só
se curvaram à religião como estão dispostos a provar que o poder da oração
chega até quem não sabe orar.
Se antes Eliana Gonçalves
Conceição encontraria a explicação para a cura da leucemia rara do seu filho
apenas na Bíblia, agora as respostas estariam também nas pesquisas que se
propuseram a desvendar os efeitos da espiritualidade na evolução da saúde. Aos
2 anos, o menino enfrentou duras sessões de quimioterapia e aprendeu a orar com
a mãe. O desafio de casos como esse provocou uma explosão de livros e
doutorados médicos que aproximam a religiosidade do mundo científico.
Entre 1900 e 1980, período
em que a ciência caminhou de costas para a fé, foram produzidos, em todo o
mundo, apenas cem estudos sobre o tema. O número teve um acréscimo de mil novas
publicações entre 2000 e 2003. De lá para cá, outras 1.700 pesquisas. Os
resultados transcendem a saúde mental. Os pesquisadores afirmam ter encontrado
melhoras físicas.
Dos cinco trabalhos sobre a influência da religiosidade no sistema
imunológico, os cinco comprovaram efeitos positivos, o que aumenta as chances de recuperação nas doenças. A mortalidade
por câncer também foi menor nos religiosos e os dados estão comprovados em
cinco dos sete estudos sobre o tema. Os problemas causados pela hipertensão
foram até 70% menores nos que desenvolveram a espiritualidade, como mostrou 14
das 23 pesquisas. A incidência de enfartes e problemas cardíacos foi
comprovadamente mais baixa em 7 das 11 teses que tiveram a proposta de estudar
o assunto. Todos os resultados foram reunidos pelo psiquiatra Franklin Santana,
da Faculdade de Medicina da USP.
“A comprovação científica
quebrou um pouco a resistência dos médicos em compreenderem os impactos da
espiritualidade. Tanto é que faculdades renomadas já implantaram disciplinas
para orientar os profissionais a lidarem com a fé dos pacientes”, afirma
Alexander Moreira de Almeida, psiquiatra da Faculdade de Medicina de Juiz de
Fora (MG) e coordenador do Núcleo de Pesquisa de Espiritualidade em Saúde
(Nupe).
Foi o desespero ao receber a
notícia de que seu filho Gabriel tinha chances mínimas de sobreviver que levou
Eliana à capela do hospital onde o menino estava internado (...). Minha vida se
transformou em oração e meu filho também sentiu vontade de [orar]”, lembra ela,
quatro anos depois os exames já mostraram que a leucemia foi embora.
“O cérebro é provocado com o
rezar, orar, meditar ou ter postura positiva”, fala a professora de Bioética da
Universidade São Camilo, Ana Cristina Sá. “Hormônios que relaxam, melhoram a
imunidade e a sensação de bem-estar são liberados. Esse impacto influencia na
saúde e foi o mínimo que a ciência já conseguiu provar ao estudar a
espiritualidade, que vai além da religião.”
A reação química que a
crença causa é o argumento que os descrentes do poder da religião usam. “Os
benefícios são seqüelas do acreditar que o tratamento médico vai dar certo. Até
um ateu conseguiria”, diz o médico Valter Sanches.
“Os números que a ciência
tanto exige para se convencer ainda não explicam, em média, 8% do total de
pacientes terminais que evoluem para cura”, diz Ana Cristina.
Prematura de uma gestação de
cinco meses, os médicos deram para Júlia algumas horas de vida. A mãe Lurdes
Lopes passou um dia inteiro ajoelhada, suplicando que sua filha sobrevivesse.
Hoje, a menina já caminha para o 8º aniversário. “Nunca fui religiosa, mas no
dia que a esperança dos médicos acabou, o meu impulso foi [orar]. Senti que
tinha um canal direto com Deus”, diz Lurdes. Ela aprendeu a [orar] naquela
noite.
“O maior foco das pesquisas
está em comprovar se a oração para o outro surte efeitos tão positivos quanto
orar por si próprio”, fala Alexander. Lurdes já foi convencida pelas
gargalhadas de Júlia.
FONTE: A TRIBUNA/ MT.
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