(Por Marcio Salgado)
FICHA TÉCNICA
Livro: "Espiritualidade:
um caminho de transformação"
Autor: Leonardo Boff
Editora: Sextante
Ano: 2006
RESENHA
Numa época obcecada pela
produtividade e o lucro, como esta em que vivemos, os valores éticos se
dissolvem na competição diária. O indivíduo, entregue ao mais profundo
hedonismo, esquece a sua vida interior, e segue perseguindo prazeres vãos.
Contudo, haverá sempre alguma possibilidade de transformação em tudo o que é
humano.
O livro “Espiritualidade: um
caminho de transformação”, de Leonardo Boff, ensina que, embora o ser humano
viva neste mundo de apelos consumistas, pode promover uma reviravolta no seu
destino e no dos seus semelhantes, a partir desta percepção interior.
Ele começa por definir o que
é, propriamente, espiritualidade. E toma de empréstimo ao monge tibetano
Dali-Lama - figura muito presente no contexto deste ensaio espiritual -, a sua
definição: “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”
(p. 13).
O seu despertar começa com a
busca dos valores essenciais ao espírito humano, como o amor, a compaixão, a
tolerância; ao contrário do que alguns pensam, pode até mesmo prescindir da
religião, pois esta relaciona-se aos rituais e aos dogmas, à crença na salvação
e na aceitação de alguma realidade metafísica ou sobrenatural.
Com muita sensibilidade,
Leonardo Boff distingue dois caminhos para a espiritualidade: o primeiro deles
se revela na “comunhão pessoal com Deus que inclui o todo, o segundo, na
comunhão com o todo que inclui Deus”(p. 29). Estão aí resumidos os percursos
ocidental e oriental.
A seguir, ao citar trechos
poéticos de figuras místicas, como São João da Cruz e Santa Teresa d’Ávila, o
autor ilustra como se dá o diálogo dos cristãos com o divino. “A relação com
Deus é pessoal e dialogal. É um encontro eu-tu, encontro entre desiguais, que
pela abertura, a amizade e o amor estabelecem comunhão e inauguram uma
aliança”(p. 31).
Leonardo Boff observa que o
Oriente fez um caminho diferente, na busca de uma experiência de totalidade, de
não-dualidade. Mas, este também é um percurso cheio de mistérios, pois, como
diz um mestre budista: “O caminho para dentro é tão perigoso quanto o caminho
para fora" (p. 39).
Quando ainda pertencia,
formalmente, às hostes da igreja, foi-lhe imposto voto de silêncio por conta de
divergências com a doutrina católica. Desnecessário dizer que os verdadeiros
religiosos já vivem na sua experiência um natural silêncio. Após deixar o
hábito, ele prosseguiu como um sacerdote da espiritualidade, da tolerância, da
ética e da ecologia.
Leonardo Boff é
doutor em teologia e filosofia, pela Universidade de Munique,
Alemanha. Atualmente é professor de Ética e Filosofia da Religião, na UERJ.
Como professor visitante, ministrou cursos na Universidade de Lisboa,
Portugal; Universidade de Harvard, EUA, e outras instituições do exterior. É
autor de livros, traduzidos em boa parte do mundo, dentre outros: “A força da
ternura” (Sextante, 2006) e “A águia e a galinha: uma metáfora da existência
humana” (Vozes, 2002).
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