Nascidos
para o amor: teoria defende a "sobrevivência do mais bondoso."
(Yasmin Anwar - Diário da Saúde)
Em contraste com o
"cada um por si" de muitas interpretações da teoria da evolução pela
seleção natural, os cientistas defendem que os seres humanos são tão
bem-sucedidos como espécie precisamente por causa do nosso carinho, altruísmo e
compaixão.
O Gene Altruísta
Cientistas estão
desafiando crenças aceitas há décadas - na época apresentadas como descobertas
científicas - de que os seres humanos seriam fisiologicamente constituídos para
serem egoístas.
Esta noção ganhou a
adesão de grande parte da comunidade científica principalmente através dos
trabalhos do cientista e pregador ateu Richard Dawkins, através de seu livro
"O Gene Egoísta". Hoje, grande parte dos próprios geneticistas
discorda das conclusões de Dawkins.
Evolução para a
compaixão
Pesquisadores da
Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, depois de realizarem uma vasta
gama de estudos, afirmam ter coletado um grande conjunto de evidências que
demonstra que nós estamos evoluindo para nos tornarmos mais cheios de
compaixão e mais colaborativos em nossa busca para sobreviver e prosperar.
Em contraste com o
"cada um por si" de muitas interpretações da teoria da evolução pela
seleção natural, o psicólogo Dacher Keltner e seus colegas defendem que os
seres humanos são tão bem-sucedidos como espécie precisamente por causa do
nosso carinho, altruísmo e compaixão.
"Eles chamam esse
mecanismo de "sobrevivência do mais bondoso." O trabalho resultou no
livro "Nascido para ser Bom: A Ciência da Vida Plena," ainda sem
tradução no Brasil.
Habilidade para cuidar
dos outros
"Como nossas
crianças são muito vulneráveis, a tarefa fundamental para a sobrevivência
humana e para a replicação dos nossos genes é tomar conta dos outros,"
afirma Keltner. "Os seres humanos têm sobrevivido como espécie porque nós
evoluímos nossa capacidade de cuidar das pessoas que necessitam e para
cooperar. Como Darwin há muito tempo supôs, a simpatia é o nosso instinto
mais forte."
A equipe de Keltner
está estudando como a capacidade humana de cuidar e cooperar com os outros está
implantada em regiões específicas do cérebro e do sistema nervoso. Um estudo
recente descobriu evidências convincentes de que muitos de nós somos
geneticamente predispostos a sermos compreensivos e termos empatia.
Este estudo, feito
Laura Saslow e Sarina Rodrigues, da Universidade Estadual do Oregon, descobriu
que pessoas com uma variação particular do gene do receptor de oxitocina (ou
ocitocina) são mais aptas à leitura do estado emocional dos outros e tornam-se
menos estressados em circunstâncias tensas.
Informalmente conhecido
como "hormônio do aconchego", a oxitocina é secretada na corrente
sanguínea e no cérebro, onde ela promove a interação social, a educação e o
amor romântico, entre outras funções.
"A tendência a ser
mais compreensivo pode ser influenciada por um único gene," diz Rodrigues.
Como a bondade garante
a sobrevivência?
Enquanto estudos
mostram que o estabelecimento de conexões e relacionamentos sociais pode
contribuir para uma vida mais significativa e saudável, a grande pergunta que
os pesquisadores agora estão fazendo é, "Como é que estas características
garantem a nossa sobrevivência e elevam nosso status entre os nossos
pares?"
Uma resposta, de acordo
com o psicólogo e sociólogo Robb Willer, é que, quanto mais generosos
formos, mais respeito e influência exerceremos.
Em um estudo recente,
Willer e sua equipe deram uma pequena quantia em dinheiro a voluntários que
participavam de uma pesquisa. A seguir, levou-os para participar de jogos de
complexidade variada, cujos resultados apontavam para benefícios para o
"bem comum".
"Os resultados,
publicados na revista American Sociological Review, mostram que os
participantes que agiram mais generosamente receberam mais presentes, mais
respeito e mais cooperação de seus pares e exerceram maior influência sobre
eles."
"Os resultados
sugerem que qualquer pessoa que age apenas em seu próprio interesse será
evitada, desrespeitada, e mesmo odiada", disse Willer. "Mas aqueles
que se comportam generosamente com os outros são tidos em alta estima por seus
pares e, portanto, têm seu status elevado."
Psicologia positiva
Os benefícios da
generosidade são tão grandes que os cientistas não estão mais se preocupando em
por que as pessoas são generosas, mas invertendo a lógica para pesquisar o que
parece ser mais patológico - por que algumas pessoas se tornam egoístas.
Esses resultados
validam os resultados da "psicologia positiva", inaugurada por Martin
Seligman, um professor da Universidade da Pensilvânia, cujas pesquisas, no
início dos anos 1990, deslocaram-se das doenças mentais e das disfunções para
investigar os mistérios da alegria e do otimismo humanos.
Embora grande parte da
psicologia positiva atual esteja focada na realização pessoal e na felicidade
individual, os pesquisadores da Universidade de Berkeley estreitaram suas
pesquisas, estudando como ela contribui especificamente para o bem-comum.
Criando filhos mais
felizes
Christine Carter, por
exemplo, diretora-executiva Centro de Ciências para o Bem Maior, é
criadora do site "Ciência para Criar Crianças Felizes," numa tradução
livre.
O objetivo do
site Raising Happy Kids, entre outras coisas, é apoiar e promover a
criação de crianças "emocionalmente alfabetizadas".
Carter traduz as
pesquisas cheias de rigor científico em conselhos práticos para os pais. Ela
diz que muitos pais estão se afastando das atividades materialistas e
competitivas e repensando o que vai trazer a verdadeira felicidade e bem-estar
para as suas famílias.
"Eu descobri que
os pais que começam conscientemente a cultivar a gratidão e a generosidade em
seus filhos veem rapidamente seus filhos tornarem-se mais alegres e mais
felizes", disse Carter, que é autora do livro Criando felicidade: 10
etapas simples para filhos mais alegres e pais mais felizes, que estará nas
livrarias em fevereiro de 2010.
"O que é muitas
vezes surpreendente para os pais é o quanto mais felizes eles próprios podem
tornar-se," diz ela.
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