Para ter autocontrole, adote
uma religião, afirmam psicólogos
Religiosos praticantes são
mais centrados e disciplinados, sugere estudo.
Versão secular do efeito, envolvendo valores 'sagrados', poderia funcionar.
Versão secular do efeito, envolvendo valores 'sagrados', poderia funcionar.
(Por John Tierney do 'New York Times')
Se eu estiver realmente
decidido a cumprir minhas promessas de Ano Novo para 2009, será que deveria
acrescentar mais uma? Na lista de coisas a fazer, deveria acrescentar "ir
à igreja"? Esta é uma reflexão estranha para um pagão, porém me senti
obrigado a despertá-la com Michael
McCullough depois de ler seu relatório a ser publicado na próxima edição da
revista científica "Psychological
Bulletin". Ele e um psicólogo da Universidade de Miami, Brian Willoughby, revisaram oito décadas
de pesquisas e chegaram à seguinte conclusão: a crença religiosa e a devoção promovem o autocontrole.
Será que só a religião pode
nos colocar sob controle?
Isso me soou
desconfortavelmente similar à conclusão das freiras que me ensinavam na escola,
mas McCullough, por sua vez, não tem
nenhuma motivação evangélica. Ele confessa não ser, ele próprio, um devoto.
"Em relação à religião", afirmou, "profissionalmente, sou fã,
mas, pessoalmente, não vou muito a campo." Seu interesse profissional
surgiu do desejo de entender por que a religião evoluiu e por que ela parece
ajudar tantas pessoas. Pesquisadores de todo o mundo descobriram repetidamente
que pessoas devotas de religiões tendem
a se sair melhor na escola, vivem mais, têm casamentos mais satisfatórios e são
mais felizes de modo geral.
Esses resultados têm sido atribuídos às regras impostas aos devotos e ao apoio social recebido por eles através dos colegas de religião, porém esses fatores externos não respondem por todos os benefícios. No novo artigo, os psicólogos de Miami analisaram a literatura para testar a proposição de que a religião dá às pessoas uma força interior.
Esses resultados têm sido atribuídos às regras impostas aos devotos e ao apoio social recebido por eles através dos colegas de religião, porém esses fatores externos não respondem por todos os benefícios. No novo artigo, os psicólogos de Miami analisaram a literatura para testar a proposição de que a religião dá às pessoas uma força interior.
"Simplesmente perguntamos se havia boas evidências de que pessoas mais religiosas
têm mais autocontrole", disse McCullough.
"Por um longo tempo, não era legal que cientistas sociais estudassem
religião, mas alguns pesquisadores o fizeram silenciosamente durante décadas.
Quando você soma tudo, descobre fatos notavelmente consistentes de que a
religiosidade se relaciona a um maior autocontrole."
Na década de 1920, pesquisadores descobriram que estudantes que passam mais tempo em escolas religiosas com aulas também aos domingos se saíram melhor em testes laboratoriais para medição da autodisciplina. Estudos subsequentes mostraram que crianças devotas de uma religião foram classificadas pelos pais e professores como tendo baixa impulsividade, e a religiosidade se relacionou a maiores níveis de autocontrole em adultos também. Pessoas religiosas, conforme foi descoberto, têm mais tendência a usar cinto de segurança, ir ao dentista e tomar vitaminas.
No entanto, o que veio primeiro, a devoção religiosa ou o autocontrole?
Na década de 1920, pesquisadores descobriram que estudantes que passam mais tempo em escolas religiosas com aulas também aos domingos se saíram melhor em testes laboratoriais para medição da autodisciplina. Estudos subsequentes mostraram que crianças devotas de uma religião foram classificadas pelos pais e professores como tendo baixa impulsividade, e a religiosidade se relacionou a maiores níveis de autocontrole em adultos também. Pessoas religiosas, conforme foi descoberto, têm mais tendência a usar cinto de segurança, ir ao dentista e tomar vitaminas.
No entanto, o que veio primeiro, a devoção religiosa ou o autocontrole?
É preciso ter autodisciplina
para frequentar a escola ou cultos aos domingos, em um templo ou mesquita,
então pessoas com menos autocontrole presumivelmente têm menos tendência a
manter esses hábitos. Mas, mesmo depois de considerar o viés da auto-seleção, McCullough afirmou que ainda existe
razão para acreditar na religião como uma forte influência.
Cérebro
"Estudos de imagens
cerebrais geradas enquanto as pessoas rezam ou meditam, mostram muita atividade
em duas partes do cérebro, importantes para a auto-regulação e o controle da
atenção e da emoção", explicou ele. "Os rituais que as religiões têm
encorajado durante milhares de anos parecem ser um tipo de exercício anaeróbico
para o autocontrole."
Em um estudo publicado pela
Universidade de Maryland em 2003,
estudantes expostos de forma subliminar a palavras religiosas (como Deus,
oração ou bíblia) foram mais lentos em reconhecer palavras associadas a
tentações (como drogas ou sexo antes do casamento). De forma oposta, quando
foram preparados com palavras de tentação, foram mais rápidos em reconhecer as
palavras religiosas. "É como se as pessoas associassem a religião com a
anulação dessas tentações", disse McCullough.
"Quando as tentações passam por suas mentes no dia-a-dia, eles rapidamente
usam a religião para dissipar esses pensamentos."
Num estudo de personalidade,
pessoas altamente religiosas foram comparadas a pessoas que apoiavam noções
espirituais mais genéricas, como a ideia de que suas vidas eram "dirigidas
por uma força espiritual maior do que qualquer ser humano" ou que eles
sentiam "uma conexão espiritual com outras pessoas". Os participantes
religiosos obtiveram pontuação relativamente maior para nível de consciência e
autocontrole, enquanto as pessoas espiritualizadas tenderam a obter pontuações
relativamente menores. "Pensar na unificação da humanidade e na unidade da
natureza não parece estar relacionado ao autocontrole", concluiu McCullough. "O efeito do
autocontrole parece vir do envolvimento com instituições e comportamentos
religiosos".
Isso significa que céticos
como eu deveriam começar a frequentar uma igreja? Mesmo se você não acredita em
um deus sobrenatural, poderia tentar melhorar seu autocontrole ao, pelo menos,
acompanhar os rituais de uma religião organizada. No entanto, provavelmente
isso não funcionaria, como me contou McCullough,
pois estudos de personalidade identificaram uma diferença entre devotos
verdadeiros e aqueles que frequentam os rituais por razões externas, como o
desejo de impressionar as pessoas ou estabelecer ligações sociais. As pessoas intrinsecamente religiosas têm maior
autocontrole, porém os extrinsecamente religiosos não.
Conselho para ateus
Sendo assim, o que um ateu
deveria fazer em 2009? O conselho de McCullough
é tentar participar de alguns dos mecanismos religiosos que parecem aumentar a
autocontrole, como a meditação particular ou até o envolvimento público com uma
organização com fortes ideais. Pessoas religiosas, ele disse, são
autocontroladas não simplesmente porque temem a ira de Deus, mas porque
absorveram os ideais de sua religião em seu próprio sistema de valores, e deram
aos seus objetivos pessoais uma aura de santidade. Ele sugeriu que os
descrentes tentem uma versão pagã dessa estratégia.
"As pessoas podem ter valores sagrados sem serem valores religiosos", ele disse. "A autoconfiança pode ser um valor sagrado para você, que é relevante para economizar dinheiro. A preocupação com os outros pode ser um valor sagrado, relevante para reservar um tempo para o trabalho voluntário. Você pode pensar em quais são os valores sagrados para você e fazer promessas de Ano Novo condizentes com eles."
"As pessoas podem ter valores sagrados sem serem valores religiosos", ele disse. "A autoconfiança pode ser um valor sagrado para você, que é relevante para economizar dinheiro. A preocupação com os outros pode ser um valor sagrado, relevante para reservar um tempo para o trabalho voluntário. Você pode pensar em quais são os valores sagrados para você e fazer promessas de Ano Novo condizentes com eles."
Obviamente, é necessário um
pouco de autocontrole para realizar esse exercício – e talvez um esforço maior
do que ir à igreja. "Valores sagrados já vêm pré-fabricados para devotos
religiosos", afirmou McCullough.
"A crença de que Deus tem preferências sobre seu comportamento e os
objetivos estabelecidos por você mesmo para sua vida deve ser a avó de
todos os mecanismos psicológicos para motivar as pessoas a perseguir suas
metas. Isso pode ajudar a explicar por
que a crença em Deus tem sido tão persistente em todas as épocas."
FONTE DE PESQUISA:
TIERNEY, John. CIÊNCIA DA
FÉ: Para ter autocontrole, adote uma religião, afirmam psicólogos. 'New York
Times' – Globo Online, G1 (31/12/08 - 09h40). Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL939940-9982,00PARA+TER+AUTOCONTROLE+ADOT E+UMA+RELIGIAO+AFIRMAM+PSICOLOGOS.html. Acessado em 21
de janeiro de 2009.
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