(Por
Teologia Hoje)
Segundo
novo estudo, mais da metade dos médicos acreditam que fé influencia na saúde. Não importa qual é a crença nem se ela envolve
um deus. O fato é que práticas como oração e meditação vêm se tornando, cada
vez mais, alvo de estudo de pesquisadores da área da saúde, que investigam, em
vários países, os efeitos da fé sobre o organismo humano.
"Antigamente,
os médicos se lembravam da religião só quando o paciente parava de tomar um
medicamento por causa dela. Hoje é comum perguntar sobre aspectos espirituais e
religiosos para usá-los positivamente em um tratamento", analisa o
psiquiatra Alexander Moreira Almeida, coordenador do Nupes (Núcleo de
Espiritualidade e Saúde), da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), em
Minas Gerais.
Segundo
uma pesquisa recente realizada nos Estados Unidos, já são muitos os médicos que
enxergam uma ligação entre fé e saúde. Mais da metade (56%) dos profissionais
entrevistados disseram acreditar que a
religião e a espiritualidade têm uma influência significativa na saúde dos
pacientes. Publicado no último mês no "Jama" ("Journal of
the American Medical Association"), o levantamento foi feito com 2.000
médicos de diferentes especialidades.
"O
estudo sugere que grande parte dos médicos não encontra barreiras entre ciência
e fé. A maioria dos profissionais americanos acredita que Deus intervém na
saúde dos pacientes e, no entanto, continua a aplicar as últimas descobertas da
ciência na sua prática", disse à Folha o autor do estudo, Farr Curlin,
professor de medicina da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Outro
estudo recente, publicado neste ano na revista científica oficial da Academia
Americana de Neurologia, sugere que níveis mais elevados de espiritualidade e
de práticas religiosas individuais estão associados a uma progressão mais lenta
da doença de Alzheimer.
Para
Tim Daaleman, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte (EUA) e autor de
vários estudos sobre a relação entre espiritualidade e saúde, a consciência dos
efeitos da fé nos procedimentos médicos tem aumentado nos Estados Unidos.
"Alguns prognósticos vêm projetando uma visão da saúde que será mais
inclusiva do que nossa compreensão atual, uma perspectiva global que coloca fatores espirituais ao lado das causas
físicas, psicológicas e sociais", afirma.
Variantes
Há várias hipóteses para explicar de que maneira a fé influencia na saúde.
"Uma
delas defende que esses indivíduos possuem uma rede de apoio social mais forte, enquanto outros estudiosos indicam
que, com a fé, as pessoas encontram um
sentido na vida, o que as ajuda a
viver melhor, com mais esperança
e com uma atitude mais positiva",
explica o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas). Com previsão de lançar um livro intitulado "Religião,
Psicopatologia e Saúde Mental" ainda em 2007, Dalgalarrondo estuda o
assunto há cerca de 20 anos.
Para
Dalgalarrondo, é preciso levar em conta que a religiosidade também pode surtir
efeitos negativos, especialmente para minorias sociais. Há receio de que
pessoas religiosas aceitem a vida de forma passiva, acreditando que uma força
maior possa resolver todos os problemas e ignorando qualquer tratamento médico.
Equilíbrio
celular
Enquanto
a maioria dos estudos busca mostrar como a espiritualidade de um determinado
paciente atua no seu organismo, uma pesquisa brasileira demonstrou a ação de
orações feitas por religiosos sobre as células humanas.
Coordenada
por Carlos Eduardo Tosta, pesquisador do Laboratório de Imunologia da UnB
(Universidade de Brasília), a pesquisa foi realizada com 52 voluntários,
estudantes de medicina da universidade. O
resultado revelou que um dos principais mecanismos de defesa do organismo -a
fagocitose- pode ser estabilizado com preces feitas à distância.
A
cada semana, uma dupla fornecia amostras de sangue e respondia a um
questionário sobre estresse. Um desses voluntários tinha sua foto encaminhada a
dez religiosos de diferentes credos, que, semanalmente, faziam preces para
aquela pessoa.
A
metodologia adotada impedia que Tosta e os estudantes soubessem quem recebia as
orações, para evitar a auto-sugestão. A análise dos exames de sangue feita após a semana de preces apontou maior
estabilidade dos fagócitos - células de defesa do organismo - dos alunos
que receberam as orações em relação aos seus exames anteriores. O experimento
foi feito posteriormente com o grupo de alunos que não havia recebido as preces
num primeiro momento e o fenômeno foi novamente observado.
Apesar
dos resultados da pesquisa, a explicação para o fenômeno está longe de ser
alcançada. "Quando testamos medicamentos novos, é possível quantificar os
dados, mas a qualidade da prece é imensurável", afirma Tosta.
Movimento
Movimento
A partir da segunda metade do século 19 e ao longo do século 20, houve uma tendência a ver a religião como algo primitivo. À medida que o ser humano fosse evoluindo, dizia-se, os homens a abandonariam.
Personalidades
como Sigmund Freud, que afirmava que a religião seria uma neurose obsessiva
universal e um mecanismo de defesa imaturo, contribuíram para que ela ganhasse
contornos negativos durante esse período, principalmente entre os intelectuais.
Estudos
para avaliar a ligação entre religiosidade e saúde ganharam força no final do
século 20. Muitos apresentaram resultados opostos às idéias de pensadores como
Freud. Nessa época, surgiu a neuroteologia,
campo que estuda o processamento das emoções relacionadas à religião e à
espiritualidade no cérebro.
Interessado
no tema, o neurocirurgião Raul Marino Jr., da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo), lançou, em 2005, o livro "A Religião do
Cérebro", onde explica o processamento desses fenômenos no órgão humano.
Ele
defende que, se o cérebro é
incumbido de processar emoções, aprendizados, noções de moralidade e afetividade,
entre outras funções, é também responsável
por validar a espiritualidade. "Até agora se pensava que as
manifestações espirituais se processavam no vácuo, mas hoje se sabe que o
cérebro é o nosso computador", afirma.
Contrário
à linha de Marino, Paulo Dalgalarrondo diz que "a ciência não dá conta de
todos os fenômenos, como o religioso". "A idéia de que a ciência um
dia vai explicar tudo é caricatural", opina.
***
FONTE DE PESQUISA:
TEOLOGIA
HOJE. Pesquisadores avaliam efeito da espiritualidade sobre o organismo. Sexta-feira,
Outubro 05, 2007. Disponível em: http://teologiahoje.
blogspot.com/2007/10/espiritualidade-e-sade.html. Acessado em 21 de janeiro
de 2009.
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