MEDICINA &
BEM-ESTAR: Medicina para a alma
O cuidado com a
espiritualidade ganha espaço nos hospitais. Os pacientes ficam menos ansiosos e
depressivos e apresentam recuperações menos dolorosas.
(Por Cilene Pereira e Priscila Carvalho. Créditos: Marco Ankosqui –
Revista ISTOÉ, 21/07/2017)
Um dos recursos
usados para medir o nível de dor física dos pacientes é um cartaz por meio do
qual ele aponta, em uma escala, qual das figuras representa a intensidade do
desconforto. No hospital americano NewYork-Presbyterian, algo semelhante
começou a ser utilizado também para aferir o tamanho da dor. Mas não a física.
A espiritual.
Um cartão muito
parecido com o adotado para a indicação da sensação física está auxiliando
doentes da UTI da instituição a transmitir se e quanto estão sofrendo
espiritualmente e o tipo de auxílio que desejam.
A iniciativa faz
parte de um movimento que se fortalece e que prevê a incorporação nos
tratamentos do cuidado com a espiritualidade. Seu crescimento está ancorado na
constatação de que oferecer atenção a esse aspecto da vida produz benefícios
importantes para a saúde. E por um caminho que a ciência começa a entender.
“Encarar uma doença
grave afeta nossa relação com Deus, e nossa relação com Deus afeta a maneira
como encaramos a enfermidade”, disse à ISTOÉ o pastor Joel Berning, capelão do
New-York-Presbyterian. “O suporte
espiritual ajuda ao trazer significado, propósito e transcendência ao
sofrimento.”
Berning trabalha com
os intensivistas. Sua atenção é mais focada nos pacientes conscientes, mas
impedidos de falar por estarem sob ventilação mecânica. Apontar no cartaz a
figura que melhor representa o nível de sua dor espiritual e receber auxílio –
uma prece, por exemplo – significa para a maioria um grande alívio.
Um trabalho feito
pelo capelão e o médico Matthew Baldwin deixou isso claro. “A ansiedade dos pacientes caiu mais de 30%
imediatamente após a consulta sobre a espiritualidade”, contou à ISTOÉ o
intensivista. “Depois da alta, 81% dos
pacientes disseram que a assistência tornou a hospitalização menos sofrida.”
As instituições
brasileiras adotam a tendência aos poucos. “Quando o paciente é indagado sobre
suas questões espirituais, percebe que o médico está preocupado com ele, não
apenas com seu diagnóstico”, diz o médico Thiago Branco, do Hospital
Paulistano, em São Paulo, onde é aplicado um projeto parecido com o americano,
com a participação do capelão profissional Robson Pedroso.
“Mesmo com um ateu, é possível trabalhar a
espiritualidade, seja na maneira como ele enxerga o universo ou no que ele
acredita”, explica Robson.
Diagnosticada com câncer de mama em 2016, Francisca de Almeida beneficiou-se
com a assistência. “Fiquei menos ansiosa.” As evidências científicas do impacto
positivo na saúde do cuidado com a espiritualidade são muitas.
Do ponto de
vista neurobiológico, sabe-se que há
efeitos sobre substâncias associadas ao bem-estar, como a serotonina e a
endorfina, resultando principalmente na
redução da depressão e da ansiedade. “Além disso, há maior aderência ao tratamento”, afirma o oncologista Felipe
Moraes, da BP, Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Coordenador de um
encontro sobre o tema realizado na semana passada, ele é co-autor de uma
revisão de estudos a respeito do assunto cuja conclusão foi a de que 85% dos
pacientes tiveram melhora na qualidade de vida. “Resultados assim mostram que a atenção deve fazer parte da rotina dos
tratamentos”, defende o médico Valdir Reginato, da Universidade Federal de
São Paulo.
O QUE DIZ A CIÊNCIA
Entre os principais
efeitos da prática da espiritualidade sobre a saúde estão:
• menores índices de
depressão e de ansiedade
• maior resistência
à dor
• maior aderência ao
tratamento
• maior
comprometimento com hábitos saudáveis
RECURSO
Nos EUA, o médico
Baldwin usa cartaz (abaixo) para saber grau de dor espiritual:
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