Andar Com Fé É Bom
(Por
Ana Holanda - Revista Bons Fluídos - 08/2006)
Entrevista
com Harold Koenig: O psiquiatra e diretor do Centro para Estudo da Religião,
Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA,
conta que a fé pode ser um bom suporte para aguentar tratamentos médicos.
O
primeiro passo para optar por essa ou aquela terapia tem a ver com o respaldo
que elas têm em suas crenças. E isso passa pela fé - em você mesmo, em sua
opção terapêutica e na vida. O tema é foco de estudo do médico americano Harold
Koenig, psiquiatra, geriatra e diretor do Centro para Estudo da Religião,
Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA.
Os
estudos de Koenig apontam para algo que já se percebe na prática: quem tem fé,
independente da religião, consegue lidar melhor com a dor, seja física, seja
emocional. Na década de 1990, Harold Koenig acompanhou 4 mil pessoas, dos mais
diferentes credos, com mais de 60 anos. O resultado, seis anos depois, foi que
menos da metade dos que não tinham uma prática religiosa assídua estava viva.
Em contrapartida, 91% dos que tinham uma crença permaneciam saudáveis. E é sobre
isso que ele conversou com BONS FLUÍDOS.
BONS
FLUÍDOS: Os médicos costumam aceitar esse tipo de teoria entre a fé e os
processos de cura?
Harold
Koenig: Depende do médico. Se ele é religioso, costuma reconhecer com maior
facilidade a importância da fé na saúde. E tantas, tantas pesquisas estão
apontando nessa direção que fica difícil ignorar isso. Mas ainda temos muito
que caminhar. Estudos mostram, por exemplo, que apenas 10% dos médicos
americanos perguntam sobre as crenças de seu paciente e levam isso em conta no
tratamento.
Pessoas
que têm algum tipo de crença adoecem menos do que as que não têm?
Sim. Porque quem tem algum tipo de crença possui uma visão mais positiva do
mundo: Deus as ama, tudo tem um significado ou um motivo para acontecer - mesmo
as doenças mais graves, existe vida depois da morte. Além disso, são pessoas
que têm maior apoio espiritual, na igreja que frequentam, no grupo religioso,
nas leituras de livros sagrados. E, em geral, levam uma vida mais saudável: não
fumam, não exageram nas bebidas alcoólicas, não têm relações sexuais fora do
casamento. Elas também costumam ter a pressão arterial mais baixa, menos
problemas de estresse e outros fatores de risco.
E
essas pessoas lidam com a dor com mais facilidade?
É
verdade. As pessoas com problemas de dores crônicas, mas que têm fé, suportam
bem melhor a dor e relatam sintomas de depressão com menos frequência. Elas
rezam, e isso - vale meditar e coisas afins - relaxa e ajuda o organismo a
combater a dor.
Então
o que vale é ter fé?
Você
não pode ter fé se isso não está direcionado a algo de caráter superior - Deus,
por exemplo. Pessoas com fé no dinheiro, nos seus carros grandes e caros ou na
sua aparência não têm a força que vai ajudá-las de verdade quando os problemas
aparecerem. A fé que vale é a espiritual.
O
senhor vivenciou alguma experiência de cura por conta da fé?
Eu nunca tive um paciente que tenha experimentado um tipo de cura milagrosa,
mas tive centenas que conseguiram o suporte espiritual de que precisavam para
enfrentar o tratamento ou lidar com o fato de sua doença ser considerada como
incurável. No entanto, tive um amigo com câncer no cérebro, que se estendeu
para os rins e outras partes do corpo. Não existia cura para ele na medicina
tradicional. Ele e sua família são pessoas de muita fé e nunca deixaram de
acreditar que ele iria conseguir. E ele conseguiu. Está vivo e bem. Sei que um
caso desses é raro, mas pode acontecer.
O
senhor já experimentou isso em sua vida?
Sempre
e o tempo todo. Eu tenho problemas de saúde, problemas na família, no trabalho,
um atrás do outro. E minha fé é o que me ajuda a superá-los, um a um. Acho que
sou mais saudável física e mentalmente por causa de minha fé. Na verdade, eu
tenho certeza disso.