FÉ INFLUENCIA NA SAÚDE
(Por
Cremepe e Mariana Bergel. Do PORTAL MÉDICO 2010 - Conselho Regional de Medicina
da Paraíba)
Pesquisadores
avaliam efeitos da espiritualidade sobre o organismo; segundo novo estudo, mais
da metade dos médicos acreditam que fé influencia na saúde. Não importa qual é
a crença nem se ela envolve um deus. O fato é que práticas como oração e
meditação vêm se tornando, cada vez mais, alvo de estudo de pesquisadores da
área da saúde, que investigam, em vários países, os efeitos da fé sobre o
organismo humano.
"Antigamente,
os médicos se lembravam da religião só quando o paciente parava de tomar um
medicamento por causa dela. Hoje é comum perguntar sobre aspectos espirituais e
religiosos para usá-los positivamente em um tratamento", analisa o
psiquiatra Alexander Moreira Almeida, coordenador do Nupes (Núcleo de
Espiritualidade e Saúde), da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), em
Minas Gerais.
Segundo
uma pesquisa recente realizada nos Estados Unidos, já são muitos os médicos que
enxergam uma ligação entre fé e saúde. Mais da metade (56%) dos profissionais
entrevistados disseram acreditar que a religião e a espiritualidade têm uma
influência significativa na saúde dos pacientes. Publicado no último mês no
"Jama" Journal of the American
Medical Association, o levantamento foi feito com 2.000 médicos de
diferentes especialidades.
"O estudo sugere que grande parte dos médicos não encontra barreiras entre ciência e fé. A maioria dos profissionais americanos acredita que Deus intervém na saúde dos pacientes e, no entanto, continua a aplicar as últimas descobertas da ciência na sua prática", disse à Folha o autor do estudo, Farr Curlin, professor de medicina da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Outro estudo recente, publicado neste ano na revista científica oficial da Academia Americana de Neurologia, sugere que níveis mais elevados de espiritualidade e de práticas religiosas individuais estão associados a uma progressão mais lenta da doença de Alzheimer.
"O estudo sugere que grande parte dos médicos não encontra barreiras entre ciência e fé. A maioria dos profissionais americanos acredita que Deus intervém na saúde dos pacientes e, no entanto, continua a aplicar as últimas descobertas da ciência na sua prática", disse à Folha o autor do estudo, Farr Curlin, professor de medicina da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Outro estudo recente, publicado neste ano na revista científica oficial da Academia Americana de Neurologia, sugere que níveis mais elevados de espiritualidade e de práticas religiosas individuais estão associados a uma progressão mais lenta da doença de Alzheimer.
Para
Tim Daaleman, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte (EUA) e autor de
vários estudos sobre a relação entre espiritualidade e saúde, a consciência dos
efeitos da fé nos procedimentos médicos tem aumentado nos Estados Unidos. "Alguns
prognósticos vêm projetando uma visão da saúde que será mais inclusiva do que
nossa compreensão atual, uma perspectiva global que coloca fatores espirituais
ao lado das causas físicas, psicológicas e sociais", afirma.
Variantes
Há
várias hipóteses para explicar de que maneira a fé influencia na saúde.
"Uma delas defende que esses indivíduos possuem uma rede de apoio social
mais forte, enquanto outros estudiosos indicam que, com a fé, as pessoas
encontram um sentido na vida, o que as ajuda a viver melhor, com mais esperança
e com uma atitude mais positiva", explica o psiquiatra Paulo
Dalgalarrondo, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Com previsão de
lançar um livro intitulado "Religião, Psicopatologia e Saúde Mental"
ainda em 2007, Dalgalarrondo estuda o assunto há cerca de 20 anos.
O psiquiatra Alexander Almeida acrescenta outro fator que pode explicar os benefícios à saúde: comumente, uma pessoa religiosa tende a evitar comportamentos de risco. "Um religioso inicia sua vida sexual mais tarde, por exemplo, o que diminui as chances de uma gravidez na adolescência ou da contaminação por doenças sexualmente transmissíveis."
O psiquiatra Alexander Almeida acrescenta outro fator que pode explicar os benefícios à saúde: comumente, uma pessoa religiosa tende a evitar comportamentos de risco. "Um religioso inicia sua vida sexual mais tarde, por exemplo, o que diminui as chances de uma gravidez na adolescência ou da contaminação por doenças sexualmente transmissíveis."
Para
Dalgalarrondo, é preciso levar em conta que a religiosidade também pode surtir
efeitos negativos, especialmente para minorias sociais. "Há homossexuais
que são bastante religiosos, e, em alguns casos, é gerado um conflito entre a
fé do indivíduo e o que as denominações religiosas pregam", diz. Também há
receio de que pessoas religiosas aceitem a vida de forma passiva, acreditando
que uma força maior possa resolver todos os problemas e ignorando qualquer
tratamento médico.
Equilíbrio
celular
Enquanto
a maioria dos estudos busca mostrar como a espiritualidade de um determinado
paciente atua no seu organismo, uma pesquisa brasileira demonstrou a ação de
orações feitas por religiosos sobre as células humanas.
Coordenada por Carlos Eduardo Tosta, pesquisador do Laboratório de Imunologia da UnB (Universidade de Brasília), a pesquisa foi realizada com 52 voluntários, estudantes de medicina da universidade. O resultado revelou que um dos principais mecanismos de defesa do organismo a fagocitose pode ser estabilizado com preces feitas à distância.
Coordenada por Carlos Eduardo Tosta, pesquisador do Laboratório de Imunologia da UnB (Universidade de Brasília), a pesquisa foi realizada com 52 voluntários, estudantes de medicina da universidade. O resultado revelou que um dos principais mecanismos de defesa do organismo a fagocitose pode ser estabilizado com preces feitas à distância.
A
cada semana, uma dupla fornecia amostras de sangue e respondia a um
questionário sobre estresse. Um desses voluntários tinha sua foto encaminhada a
dez religiosos de diferentes credos, que, semanalmente, faziam preces para
aquela pessoa.
A
metodologia adotada impedia que Tosta e os estudantes soubessem quem recebia as
orações, para evitar a auto sugestão. A análise dos exames de sangue feita após
a semana de preces apontou maior estabilidade dos fagócitos células de defesa
do organismo dos alunos que receberam as orações em relação aos seus exames
anteriores. O experimento foi feito posteriormente com o grupo de alunos que
não havia recebido as preces num primeiro momento e o fenômeno foi novamente
observado.
Apesar
dos resultados da pesquisa, a explicação para o fenômeno está longe de ser
alcançada. "Quando testamos medicamentos novos, é possível quantificar os
dados, mas a qualidade da prece é imensurável", afirma Tosta.
Movimento
A partir da segunda metade do século 19 e ao longo do século 20, houve uma tendência a ver a religião como algo primitivo. À medida que o ser humano fosse evoluindo, dizia-se, os homens a abandonariam. Personalidades como Sigmund Freud, que afirmava que a religião seria uma neurose obsessiva universal e um mecanismo de defesa imaturo, contribuíram para que ela ganhasse contornos negativos durante esse período, principalmente entre os intelectuais.
Estudos para avaliar a ligação entre religiosidade e saúde ganharam força no final do século 20. Muitos apresentaram resultados opostos às idéias de pensadores como Freud. Nessa época, surgiu a neuroteologia, campo que estuda o processamento das emoções relacionadas à religião e à espiritualidade no cérebro.
Movimento
A partir da segunda metade do século 19 e ao longo do século 20, houve uma tendência a ver a religião como algo primitivo. À medida que o ser humano fosse evoluindo, dizia-se, os homens a abandonariam. Personalidades como Sigmund Freud, que afirmava que a religião seria uma neurose obsessiva universal e um mecanismo de defesa imaturo, contribuíram para que ela ganhasse contornos negativos durante esse período, principalmente entre os intelectuais.
Estudos para avaliar a ligação entre religiosidade e saúde ganharam força no final do século 20. Muitos apresentaram resultados opostos às idéias de pensadores como Freud. Nessa época, surgiu a neuroteologia, campo que estuda o processamento das emoções relacionadas à religião e à espiritualidade no cérebro.
Interessado
no tema, o neurocirurgião Raul Marino Jr., da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo), lançou, em 2005, o livro "A Religião do
Cérebro", onde explica o processamento desses fenômenos no órgão humano. Ele
defende que, se o cérebro é incumbido de processar emoções, aprendizados,
noções de moralidade e afetividade, entre outras funções, é também responsável por
validar a espiritualidade.
"Até
agora se pensava que as manifestações espirituais se processavam no vácuo, mas
hoje se sabe que o cérebro é o nosso computador", afirma. Contrário à
linha de Marino, Paulo Dalgalarrondo diz que "a ciência não dá conta de
todos os fenômenos, como o religioso". "A idéia de que a ciência um
dia vai explicar tudo é caricatural", opina.
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